quarta-feira

SEX, LIES AND VIDEOTAPE.




"Sexo, mentiras e video tape" talvez seja uma expressão mais conhecida que o filme que tornou esse jogo de palavras uma gíria. Já vi gente que certamente não o assistiu - e que talvez nem se interesse em vê-lo - dizer sexo, mentiras e video tape em meio a uma conversa qualquer.

O filme já virou cult, eu sei. O problema de filmes que viram cult é que, por mais que você diga que esse filme é único pra você e isso não seja pose, seja de verdade, vai soar cult e impedir que você consiga expressar o que de fato gostaria de comunicar sobre a sua experiência. Tá bom, nada mais cult que vontade de comunicar experiência. Aliás, nada mais cult que definir um filme como único. Assim, desisto de tentar explicar como a experiência chamada "Sexo, mentiras e video tape" foi única pra mim, mesmo que tenha virado cult.

E se fosse você? O que diria para a câmera?

Adoro, especialmente, duas cenas.

A cena em que Ann volta ao apartamento de Graham, depois de achar o nononononoo - não vou contar o que ela acha, senão perde a graça pra quem ainda não viu - trancado no aspirador de pó. Ann, inesquecivelmente interpretada por Andie MacDowell, tira as roupas sóbrias, veste uma calça jeans e uma blusa preta como a de Graham, também inesquecivelmente interpretado por James Spader. É uma espécie de luto pela própria morte. É como se Ann cometesse suicídio. Simbólico, mas suicídio.

Acho que tem a ver com Beleza Americana. Os dois mostram a sociedade norte-americana com lentes ácidas e acabam colocando o telespectador numa poltrona que é, ao mesmo tempo, desconfortável e macia. Macia por nos colocar na deliciosa situação de quem não tem nada a ver com aquilo. Desconfortável por nos mostrar tudo de um ângulo que nos faz sentir, na verdade, bem parecidos com todos eles. É como diz o slogan do canal de música VH1: por trás de todo moderno sempre existe um clássico. Acho que Sexo, mentiras e video tape de Steven Soderbergh pode ser o clássico que existe por trás do pop Beleza Americana de Sam Mendes, que foi feito exatos dez anos depois.

Pesquisando na net para escrever este post, descobri que o filme inspirou uma peça chamada Play. Parece que está em cartaz no Rio. Não é uma super coincidência? Você está no Rio? Bom, se você resolver assistir a tal peça, legal, mas faço um pedido: não deixe de ver o filme, se é que você ainda não o conhece. E se conhece, assista de novo. Como eu fiz nesta madrugada de insônia vendo a HBO.

Sabe aquele momento em que o Graham desliga a câmera? É isso. Uma boa história merece off record. Esta é a segunda cena que adoro.

Carrego comigo filmes que ficam passando dentro da minha cabeça, do meu coração.

Sexo, mentiras e video tape é um dos meus filmes. Ele me faz ter ainda mais certeza que, definitivamente, não quero na minha fita algumas das histórias que vejo acontecendo tão perto, ao meu redor.


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