sábado

Making of do blog.



Oi. Este blog funciona assim: aos poucos, escolho um cartaz de um filme da minha vida e também um trechinho das cenas. Daí, posto um comentário, falando do papel que o filme teve pra mim. O texto com hiperlinks também traz informações e curiosidades. A escrita é curta, mas a emoção de lembrar cada filme é sempre longa. Espero que você se divirta. Deixe um comentário com a sua versão da história. Quem sabe você resolve (re)ver alguns? Tô loooonge de ser cinéfila, mas acho que, no roteiro de todo mundo, tem que ter um pouco de cinema.

quarta-feira

2001: A SPACE ODYSSEY.






Sabe aquelas tevês portáteis, pequenininhas, preto-e-branco, que tem rádio junto? Pois a primeira vez em que eu assisti "2001: uma odisséia no espaço" foi numa tevê assim. Que ficava na cozinha, na casa da minha mãe. Dá pra imaginar? Tsc, tsc, tsc... É uma ironia ver um filme como "2001" desse jeito, justo ele que abusa da telona do cinema, que abusa da trilha sonora, que brinca com as sensações do telespectador, fazendo com que a gente se sinta no escuro do espaço... Sempre ouvi falar muito sobre "2001". Vi vários trechos na Faculdade e cheguei a ver de relance ou uma ou outra imagem na programação da tevê aberta, antes dessa noite em que assisti o filme pela tevezinha. Por isso, já conhecia a famosa cena dos macacos. Até então, porém, não tinha decidido assisti-lo de verdade. Estava uma noite fria de inverno daquelas. Fui até a cozinha - eu ainda morava com os meus pais. Sem sono, resolvi comer alguma coisa, acho, e liguei a tevezinha no canal da TV Cultura. Estava começando o filme. Só levantei da cadeira quando acabou. Mesmo com frio. Fiquei completamente hipnotizada. A partir daí, já perdi as contas de quantas vezes o assisti. Quando ainda lecionava em faculdades de Comunicação, "2001" inspirou muitas das minhas aulas, em sessões sempre apoiadas com roteiros de leituras, como o excelente livro do Amir Labaki sobre o filme. Um aluno, certa vez, propôs como artigo final para a disciplina explorar vinculações possíveis entre as imagens de 2001 - que mostraram o homem na Lua em abril de 1968, antes que isso acontecesse, de fato, em dezembro do mesmo ano - e a estética da cobertura jornalística sobre o tema da astronomia. "2001" é o filme do HAL. Depois do HAL, nenhum computador foi visto com ingenuidade... HAL. H é uma letra antes de I, A é um letra antes B e L é uma letra antes de M. Portanto, HAL seria uma referência a IBM... Lenda ou fato? Como todo filme que vira uma mega referência, "2001" é cheio de histórias assim, curiosidades, entrelinhas, bastidores...  Sou uma astrônoma amadora meio frustada e preguiçosa.  Adoro olhar o céu, saber das coisas do espaço, essa experiência meio de sonho que é estar por aí, num planeta, no universo... porém, minha luneta está de tripé quebrado - vou consertar, prometo - e a bibliografia que ensina conceitos e coisas da física - resultado da empolgação fogo-de-palha depois de um curso de ecoastronomia - está intacta. Ou seja, do universo de verdade sei pouco. No universo de Kubrick, entretanto, não paro de descobrir coisas novas a cada nova viagem que faço. 

DRACULA.





Junho. 2009.

"Dracula" me lembra uma história muito, muito triste e também me lembra uma outra história, muito, muito bonita e feliz. "Dracula" de Coppola, que filmou o "Dracula" de Bram Stoker, é desse jeito: uma história, ao mesmo tempo, muito, muito triste e muito, muito bonita e feliz, como as duas histórias que o filme me lembra. Nada mais apaixonante, encantador, irresistível que o Gary Oldman - sempre os ingleses - neste papel. Quando ele baixa os óculos e pede, com o pensamento, que Nina olhe para ele, o coração da gente aperta. O final me incomoda um pouco. Não sei direito o que penso sobre um monte de coisas nessa vida, mas já entendi que algumas experiências exigem que você mergulhe, se entregue. E aí cabe a você ou dizer "sim" ou dizer "não", pois dizer "talvez" ou "espera um pouco que eu já volto pra viver isso" não dá. Quando  Winona Ryder faz a sua escolha, sempre penso: e se ela tivesse dito ao vampiro um apaixonado, pleno e livre... sim? Com esse filme, acredito ainda mais que o amor nunca morre e pode aparecer de repente, como se tivesse passado a vida toda ao lado da gente.

LOST IN TRANSLATION.



Junho. 2009.

Não tinha nenhuma opinião sobre o Bill Murray. Depois de "Lost in Translation", passei a adorá-lo. A Scarlett Johansson, que ganhou o coração de Hollywood com esse filme, pra variar, arrasa. No Brasil, o nome adotado foi "Perdidos na Conexão". Quem sou eu para avaliar a tradução dos títulos de filme do inglês para o português, mas "Perdidos na Tradução" acho que seria muito mais interessante. "Translation" aí significa ir de uma coisa a outra, de um lugar a outro, de uma existência a outra, um deslocamento. Bom, talvez "Perdidos na Tradução" não soe bem, marqueteiramente falando. "Perdidos" tem mais a ver com "conexão", mesmo, lembra as pessoas procurando seus gates nos aeroportos. Seria preciso pensar muito para que um título como "Perdidos na Tradução" fizesse sentido comercial. Afinal, como é que uma pessoa poderia se perder numa tradução? Mas é disso mesmo que o filme fala. Se tem uma coisa que acontece durante toda a história, essa coisa é a tentativa de se fazer entender através das palavras e dos silêncios em inglês e japonês. O filme é sobre se fazer entender no casamento, na solidão, se fazer entender para si mesmo; se perder e se achar nos solitários quartos de hotel, no solitário mundo onde, ao mesmo tempo, há tanta, tanta, tanta gente e não há ninguém. Além de matar um pouquinho da minha curiosidade sobre Tóquio - que morro de vontade de conhecer -, "Lost in Translation" confirmou minha tietagem pela diretora Sofia Coppola. Há indiretas bem diretas no filme para o ex-marido dela, o famoso diretor publicidade e videoclipes, Spike Jonze. No entanto, o que mais há são indiretas bem diretas pra gente.  "Everyone wants to be found", diz o cartaz do filme. Ninguém sai do cinema sem parar pra pensar um pouquinho na própria vida. Naquilo que quer, de fato, encontrar. Em quem quer, de fato, encontrar. No que está buscando. No que está deixando pra trás. Uma das cenas que mais amo: o encontro no bar. "- And what do you do?".  "- I'm not sure, actually".


SATURDAY NIGHT FEVER.





Agosto. 2009.

Eu lembro quando meus pais foram até o cinema ver este filme e a gente ficou com a moça que trabalhava lá em casa. Eu tinha uns três, quatro anos, acho. Até então, como era de se esperar, Travolta, Bee Gees e meias que brilham não me interessavam. Eu também lembro de ter visto a cena da Sônia Braga dançando na televisão, durante a novela Dancing Days  Hoje, porém, se eu pudesse escolher um video-clipe para viver dentro, este clip seria o de algum hit dos anos 70. Pode ser que o playlist me lembre a infância, afinal, quem foi criança nos anos 80, em algum momento, ouviu 70s tocando nos discos dos adultos. Seja como for, este é um dos filmes da minha vida. É certo que Saturday Night Fever é datado. No entanto, pensando bem, até que alguns personagens - como a mãe, o irmão padre e o próprio Tony Manero - são criaturas bem interessantes e o desfecho, de algum modo, surpreende. A realidade vai invadindo e estragando a fantasia - como diz Peter Steven, neste artigo. O globo espelhado precisa parar de girar e a noite acaba. Que pena. A vida deveria ser uma eterna pista de Os Embalos de Sábado à Noite.

CAOS CALMO.




Junho. 2009.

Imagine um cara que, por acaso, acaba salvando uma desconhecida de um afogamento. Claro que ele fica orgulhoso do seu gesto, mas a sensação de "herói do dia" acaba rápido, pois quando chega em casa, recebe a espantosa notícia: sua esposa, naquele mesmo momento, estava morrendo. A partir daí, esse mega ultra power super empresário italiano precisa cuidar da filha. E dele mesmo. Antes de ver o filme - que é baseado no livro de Sandro Veronesi -, eu já sabia que "Caos calmo" acabaria virando um filme da minha vida. Como poderia ser diferente se o diretor Nani Moretti está na jogada? Logo fiquei impactada com o título. Nada mais contraditório, mais humano, portanto, que um caos calmo. O filme fala do luto, tema de um famoso filme de Moretti, "O quarto do filho", porém, acaba falando de muitas outras coisas também. Em "Caos Calmo" , os melhores momentos acontecem na praça onde as pessoas se cruzam, se enxergam, se tornam cúmplices, se reconhecem uma nas outras. O tal viúvo, sem rumo, decide sentar no banco da praça, cancelar as reuniões, resolver ali os problemas corporativos. Ele se torna um personagem triste e engraçado, ao mesmo tempo, diante da escola da filha, esperando por ela todos os dias. Quando o caos vem e se instala, melhor ter calma, melhor sair para andar na praça. Nada de auto-ajuda. Hetero-ajuda é que faz bem. Os outros é que nos ajudam a aceitar que, apesar do que morre em nós ou ao redor de nós,  é a vida, autoritária, que se impõe. Queremos morrer, mas vivemos. Acordamos no dia seguinte e, aos poucos, quando nos damos conta, conseguimos inventar um outro cotidiano. O que fica pelo caminho - todos os restos, todos os rastros - acaba abrindo novas trilhas nessa mata fechada chamada dor. Ah! Não dá pra esquecer de comentar a hot cena de sexo que acontece em meio a um desfecho muito singular da história... mas quem assistir e viver, verá.

IT'S A WONDERFUL LIFE.


Maio. 2009.

1995. Estava em cartaz o Festival Frank Capra no Centro Cultural. E eu nunca tinha assistido nada dele, embora soubesse que era um clássico do cinema norte-americano dos anos 40. Sabia também que seus filmes eram criticados por enaltecerem o american dream. Todo mundo, pelo menos uma vez na vida sentiu (bom, pelo menos, eu acho que todo mundo deveria sentir isso pelo menos uma vez na vida) vontade de viajar pelo planeta, de conhecer aquele lugar que só os livros de História e de Geografia sabem que existe. A vida, porém, nem sempre nos deixa realizar o que desejamos e com George Bailey aconteceu assim. Ele era adorado na sua comunidade. No entanto, era também, entre todos, a pessoa que mais queria ir embora dali. Ironia do destino: ele é quem sempre ficava. Como se não bastasse, é Natal e por causa de uma confusão enorme, George acaba querendo se matar. Até que um anjo vem e mostra como, se ele se matasse, seria a vida da sua família e dos seus amigos. Beleza, anjo, mas que tal mostrar também como seria a vida do George se ele fizesse o que sempre sonhou? Sempre lembro deste filme quando tenho que fazer mala pra alguma viagem. Fiz um quadro do It's a wonderful life pra não esquecer: é melhor ser amado por aqueles que a gente ama, mas também é melhor não ser George Bailey. Eu quero ver o mundo e vou continuar vendo. Sem anjo nenhum embaçando. Aliás, anjo bacana é aquele que pergunta, enquanto faz a própria mochila, não os motivos de ir e sim se você não está esquecendo o passaporte.


Esta é uma foto do meu quadro de It's a wonderful life. Dá pra ver também um pedacinho do quadro de La Dolce Vita.


Abaixo, cenas do filme, com música de Michael White inspirada pelo personagem George.

PARIS, TEXAS.

Agosto. 2009.

Um dia, meu professor de inglês levou o CD do filme para a aula. Queria que eu ouvisse " I know these people" e preenchesse as palavras que faltavam no exercício que ele havia preparado. Meu professor disse que adorava esse filme. Eu assisti Paris,Texas, do mágico Wim Wenders, há muito, muito tempo. Era adolescente. Foi indicação de uma amiga (minha melhor amiga naquela época). Aquele era um tempo em que eu não fazia idéia de metade de todas as dores e alegrias das quais o filme fala. Meu professor de inglês ligou o CD. Há trechos editados do famoso diálogo nessa faixa, é uma música... Aliás, a música do Ry Cooder é uma das coisas mais maravilhosas desse filme. Os silêncios e o jeito como o Ry Cooder toca a guitarra - a técnica é chamada de slide guitar - são as marcas maiores da atmosfera de Paris, Texas. Fui ouvindo o CD, ouvindo... Durante essa tarefa de inglês, acho que, pela primeira vez, eu entendi as palavras de Travis e as lágrimas de Jane. Não só por que já conseguia compreender o idioma, mas também por que já conseguia - depois de tantas andanças - compreender um pouquinho mais a condição humana e seus desertos.





O roteiro, os enquadramentos, a fotografia, a trilha ... Tudo em Paris, Texas virou uma forte referência. Alguns exemplos. A banda Gotan Project, em seu CD Lunático, tem uma música com o nome do filme que faz referência aos acordes de Ry Cooder.



E a banda escocesa Travis tem esse nome por causa do personagem Travis de Paris, Texas.


O imperdível documentário brasileiro Janelas da Alma traz uma entrevista com Wim Wenders, entre outros nomes famosos e criaturas interessantes. Clique no vídeo abaixo para assistir partes dessa entrevista que não foram utilizadas no documentário.

SEX, LIES AND VIDEOTAPE.




"Sexo, mentiras e video tape" talvez seja uma expressão mais conhecida que o filme que tornou esse jogo de palavras uma gíria. Já vi gente que certamente não o assistiu - e que talvez nem se interesse em vê-lo - dizer sexo, mentiras e video tape em meio a uma conversa qualquer.

O filme já virou cult, eu sei. O problema de filmes que viram cult é que, por mais que você diga que esse filme é único pra você e isso não seja pose, seja de verdade, vai soar cult e impedir que você consiga expressar o que de fato gostaria de comunicar sobre a sua experiência. Tá bom, nada mais cult que vontade de comunicar experiência. Aliás, nada mais cult que definir um filme como único. Assim, desisto de tentar explicar como a experiência chamada "Sexo, mentiras e video tape" foi única pra mim, mesmo que tenha virado cult.

E se fosse você? O que diria para a câmera?

Adoro, especialmente, duas cenas.

A cena em que Ann volta ao apartamento de Graham, depois de achar o nononononoo - não vou contar o que ela acha, senão perde a graça pra quem ainda não viu - trancado no aspirador de pó. Ann, inesquecivelmente interpretada por Andie MacDowell, tira as roupas sóbrias, veste uma calça jeans e uma blusa preta como a de Graham, também inesquecivelmente interpretado por James Spader. É uma espécie de luto pela própria morte. É como se Ann cometesse suicídio. Simbólico, mas suicídio.

Acho que tem a ver com Beleza Americana. Os dois mostram a sociedade norte-americana com lentes ácidas e acabam colocando o telespectador numa poltrona que é, ao mesmo tempo, desconfortável e macia. Macia por nos colocar na deliciosa situação de quem não tem nada a ver com aquilo. Desconfortável por nos mostrar tudo de um ângulo que nos faz sentir, na verdade, bem parecidos com todos eles. É como diz o slogan do canal de música VH1: por trás de todo moderno sempre existe um clássico. Acho que Sexo, mentiras e video tape de Steven Soderbergh pode ser o clássico que existe por trás do pop Beleza Americana de Sam Mendes, que foi feito exatos dez anos depois.

Pesquisando na net para escrever este post, descobri que o filme inspirou uma peça chamada Play. Parece que está em cartaz no Rio. Não é uma super coincidência? Você está no Rio? Bom, se você resolver assistir a tal peça, legal, mas faço um pedido: não deixe de ver o filme, se é que você ainda não o conhece. E se conhece, assista de novo. Como eu fiz nesta madrugada de insônia vendo a HBO.

Sabe aquele momento em que o Graham desliga a câmera? É isso. Uma boa história merece off record. Esta é a segunda cena que adoro.

Carrego comigo filmes que ficam passando dentro da minha cabeça, do meu coração.

Sexo, mentiras e video tape é um dos meus filmes. Ele me faz ter ainda mais certeza que, definitivamente, não quero na minha fita algumas das histórias que vejo acontecendo tão perto, ao meu redor.


EL CORAZÓN.



Junho. 2009.

Diego Garcia Moreno é o diretor deste documentário apaixonante. Ele estava circulando no Festival Internacional de Cinema de Brasília, em 2008, quando "El Corazón" foi exibido. Eu e uma amiga estávamos por lá também, escolhendo o que assistir, não sabendo lidar com tantas opções, naquele clima de festival: um monte de filme novo, um monte de diretores dos quais você nunca ouviu falar, um monte de opiniões pra você levar em conta e/ou ignorar, pouco tempo para ver tudo... Foi quando li no jornal sobre a exibição deste filme colombiano. Como sou uma apaixonada pela Colômbia, desde que estive por lá, não tive dúvidas sobre o que gostaria de assistir. Fomos. Antes de ver o documentário de Diego, vi uma ficção, sátira de filmes de máfia, porém, baseada nos estereótipos da Colômbia e da América Latina, em geral. Não lembro o título, mas lembro que era muito engraçado mesmo. Daí, começou "El Corazón". Diego conta a história de um soldado que lutou contra as FARC e levou um tirou. A bala se alojou no coração do cara. Não o matou - ninguém sabe como. Ele vivia com a bala cravada lá. O médico cardiologista que cuidou dele e fez a cirurgia que retirou a bala era casado, ironia do destino, com uma cardíaca. A Colômbia é conhecida como o país do coração, da paixão, e há alguns fatos da história da política e da religião do país que dão sentido especial a esse signo. O documentário liga todas essas referências diferentes. Simples, como são as histórias do coração, fala da condição humana, sua poesia e sua mediocridade. Ao final da sessão, depois de um "hola" rápido para a platéia, o diretor ficou ao lado da porta de saída. Fiz questão de apertar a mão dele. Eu estava com os olhos completamente vermelhos, da cor do cartaz do filme, de tanto chorar: - Muchas gracias por eso. Quase que a voz não saiu. "El Corazón" fala de Medelín e da Colômbia mas fala, sobretudo, de quem tem um coração, isto é, de quem não fica indiferente não só a injustiça social, a miséria, a solidão, ao medo da morte, mas também ao amor, a família, aos encontros, a felicidade da vida.

Campanha publicitária com o slogan "Colombia es pasión".



Na foto, eu, Alejo y Jess na Reserva Tayrona, perto de Santa Marta, Colômbia. 2004.


Postei um comentário no blog do diretor do filme, Diego Garcia Moreno, e ele me respondeu com o coração, enviando este email aqui:

---------- Forwarded message ----------
From: Diego Garcia
Date: 2009/7/12
Subject: hola
To: Josi Paz

Qué maravilla saber que El corazón tocó tu corazón. Estuve paseándome por tu blog: Qué honor aparecer entre esa colección de películas maravillosas. Desde Bogotá, te envío un beso. Diego García Moreno

ETERNAL SUNSHINE OF THE SPOTLESS MIND.

Abril.2009.

Uma amiga me recomendou, por razões didáticas, que eu fosse ver "Brilho eterno de uma mente sem lembrança", que tinha estreado. Fui. Quase não consegui sair da sala de cinema depois que acabou. Não sei qual é o rótulo que atribuem a esse filme, mas pra mim é uma deliciosa mistura de ficção-científica com romance. Ao contrário da história do filme, faço questão de lembrar tudo o que ele me fez ver. O cinema pode ser uma deliciosa e morna canja de galinha quando você precisa se curar e eu precisava. Ah, se precisava... Assistir "Brilho eterno" foi um merthiolate e tanto.


E.T. THE EXTRA TERRESTRIAL.




Abril.2009.

Morava numa pequena cidade do interior onde ir ao cinema significava assistir Charles Browson, Trapalhões e algum filme de artes marciais. Portanto, não vi E.T no cinema. Minhas amiguinhas que assistiram a fita na capital contaram tudo com tantos detalhes que era como se eu tivesse visto, mas vi mesmo E.T. na Rede Globo, algum tempo depois, e somente anos mais tarde assisti outra vez, com o áudio original. Uau. Aquela história de virar adulto, mas continuar sendo criança etc... não poderia se mostrar mais verdadeira. Deu vontade de correr pela cidade de bicicleta outra vez.

LADRI DI BICICLETTE.


Abril. 2009.

Se este não é o meu filme favorito isso é apenas por um motivo: não consigo ter UM FILME favorito. Mas se fosse possível escolher só um, com muitas chances O  FILME seria "Ladrões de Bicicleta". Já perdi as contas de quantas vezes o assisti. E de quantas vezes chorei e ri e chorei e ri e chorei e ri por sua causa. Tudo igual e tudo sempre completamente diferente. Nada define melhor este filme que a palavra "clássico". E ele é mesmo um clássico do neo-realismo italiano. A cena em que o garoto leva um tiro no pé em "Cidade de Deus" me lembra muito a cena em que Bruno, filho de Ricci, chora, sofrendo por tudo o que está acontecendo e pelo gesto agressivo de seu pai desesperado. Em "Nós que nos amávamos tanto", o personagem cinéfilo que faz parte da turma de amigos conta que o diretor Vittorio De Sica teria colocado um cigarro no bolso do pequeno Enzo, que faz o papel de Bruno. Acusado injustamente de ter fumado, Enzo começa a gravar nervoso e viria daí a força do seu choro no filme. "Ladrões" roubou meu coração. Desde a primeira vez. Para sempre.

LA DOLCE VITA.

Abril. 2009.

Acho que algumas línguas nasceram para artes específicas. O inglês, para o rock. O italiano, para o cinema. Mesmo quando é um filme italiano ruim, eu tenho a maior boa vontade para assistir. "La Dolce Vita", como se não bastasse ser um magistral Fellini e ser sinônimo de história do cinema há 50 anos, apresentou a Fontana di Trevi para o mundo. 

A foto abaixo eu fiz em 2005, quando estive em Roma, num quente mês de setembro. 

É linda, claro que é. Mas sem Anita Ekberg e Marcello Mastroiani, durante o dia e com um montão de turistas ao redor, a Fontana di Trevi não é a mesma coisa.  O cinema é a realidade da ficcção: caminhei pela capital da Itália, numa viagem com amigos, tendo a sensação não de ser turista, mas de ser casting.

THE WIZARD OF OZ.


 Abril. 2009.

"Over the rainbown" ainda é uma das músicas favoritas da minha mãe. Freud explica. Quando eu era adolescente, ela "sugeriu com ênfase" (mães não são democráticas nessas coisas) O Mágico de Oz para a trilha sonora dos meus 15 anos. Não foi pra valer a MINHA trilha até o dia em que assisti o filme de novo mais tarde e, sobretudo, depois que li "O Mágico de Oz" de Salman Rushdie, publicado no Brasil pela Editora Rocco. De lá pra cá, a referência desse filme se tornou definitiva. A estréia aconteceu nos Estados Unidos no dia 25 de agosto de 1939 e até hoje, continua sendo o clássico dos clássicos. Uma vez, uma turma muito especial, da qual fui professora, me escolheu para uma homenagem na formatura da Faculdade. Isso faz tempo. Já nem leciono mais. O tema da festa à fantasia?  Oscar. Claro que fui de Dorothy. Tenho que copiar estas fotos. Quando fizer isso, talvez eu poste uma aqui. No cestinho que improvisei, coloquei o cachorro de pano, Plytcher, que ganhei aos 10 anos e carrego comigo pra todo lado. Dorothy sem Toto não dá, né? Acho que a Dorothy é meio Alice - uma história que eu adoro. Outro dia soube que uma sister-friend comprou uma casa. Vou fazer para ela um porta-chaves escrito: "There's no place like home". Pensando bem, vou fazer um pra mim também. Como saber onde é a nossa casa? É onde o nosso coração está, ou seja, no mundo. 

BEFORE SUNRISE. BEFORE THE SUNSET.




Abril. 2009.

Acho bastante improvável que eu seja amiga de alguém que não gosta desses dois filmes. OK, OK, tô sendo radical, mas é que eles juntam um monte de coisas que eu amo, como os atores. Especialmente a July Delpy. Pode ser projeção, afinal, eu me identifico muito com a Celine, personagem dela. O roteiro, talvez soe adolescente para alguns, mas, do jeito que eu vejo a vida, é isso: viagens, encontros, desencontros, caminhos, ruelas, ir andando, até que alguma coisa, que vale a pena, que te conecta, te prende. E te faz voltar naquele lugar depois. E te faz perder o avião. E ganhar uma vida que justifique esse nome. O tema do filme é amor. Um amor romântico que nasce numa viagem de trem. E continua em Paris. E eu não posso escrever mais nada se não vou entregar as surpresas de-li-ci-o-sas dessa história. Uma das coisas que mais curto é justamente essa mistura de escolhas reais com as escolhas de sonho, as escolhas que os personagens acabam fazendo por várias circunstâncias da vida, e as escolhas que, de um jeito ou de outro, precisam refazer, não só em relação aos seus relacionamentos, mas em relação a eles mesmos. Acho lindo o jeito que o filme resolveu essa história de sonhar e viver o amor. Ao contrário do que tanta gente por aí prega, o que move um vínculo com outra pessoa tem mais a ver com o que puxa pelo plexo solar e pelo cérebro do que por qualquer outra parte do corpo, ainda que todos os pedacinhos da pele e da alma saibam quando é a pessoa, o que não quer dizer que fazer essa escolha seja fácil ou seja agora. Mesmo que a gente, como os personagens, tente esquecer disso. O primeiro filme, em português, se chama Antes do Amanhecer. O segundo, que é o meu favorito, é Antes do Pôr-do-Sol. Ah! E a trilha sonora é uma coisa. Nos dois filmes.